Naúfrago Na Lua ( Castaway on The Moon)
"Sobreviva!" Lee Hae-Joon traz para as telas uma síntese da vida.
Ao sermos apresentados a figura de Kim
Seung-geun (Jung Jae-young) confirmando suas dívidas pelo celular, em meio a
uma movimentada ponte da Coréia do sul, tudo parece se mover em suas direções
costumeiras, o homem inadimplente para a empresa de cobrança, se torna muito
mais inadimplente perante aqueles que passam velozmente em seus carros, sem
notar o corpo que cai na água em direção à morte. Bom, pelo menos, assim
pensava o homem ao olhar a sua, aparente, última desventura.
Transitando
entre o cômico e o trágico, Kim segue sua própria saga em um mundo
inabitado, preso no mais improvável dos cenários pós-tentativa de suicídio: uma
ilha dentro de um rio próximo á uma grande cidade, fracassando até em sua
tentativa de morte, a conclusão de um homem que perdeu tudo que tentou construir
na vida (destaque ao flashback bem coreografado), é que se todo o resto foi perdido, então o que resta deve igualmente ser jogado fora; se
uma ponte não mata um homem então "O prédio de 60 andares, esse me mata, com certeza!".
Nesse
ponto o filme atinge uma sensibilidade analítica rara, tal que é preciso
atentar-se para entender a totalidade do que a situação representa. Sem ter como
chegar ao seu almejado prédio de 60 andares, o protagonista resolve enforcar-se
na primeira árvore em seu caminho, entretanto, para o homem que, com sua mente,
renunciou a vida, resta ao seu intestino salvá-la. Com uma profundidade filosófica
intensa, o roteiro eleva o personagem a um status, mesmo que inconsciente,
coerentemente integrado ao seu meio, agora isolado do mundo que outrora lhe foi
imputado, chega ao estado de matriz do agir e pensar humanos: da aparente imundície do homem surge aquilo,
que a partir daquele momento irá redefinir seus conceitos e suas ações.
O
diferencial da trama fica
por conta de Kim Jung-yeon (Jung Ryeo-won), a introdução certeira da personagem,
depois de pouco mais de meia-hora de filme, ajuda a fechar as pontas soltas do
tema criando um clima coeso para o desenvolvimento do restante do roteiro e dá
á produção um brilho especial: interpretando uma mulher que não sai do próprio quarto
á anos, e através dos olhos dela classificando o “mundo de fora” como um
universo assustador/vazio, porém fascinante/curioso, Jung Ryeo-won personifica o isolamento emocional/físico da modernidade,
mostrando a ilusão com que se vive atualmente: fazer algo inútil para poder
fingir que se teve “um dia cheio”, fingir ser o que não se é pra se sentir
algo. Mas ao olhar através de seu telescópio para a lua, em um momento que deveria
estar sozinha com a imensidão do universo a sua frente, as ações de um alienígena
louco provocam uma dinâmica, no mínimo, agradável (com poder de provocar
reações inesperadas, que passam um ar de estranheza aos que estão por fora da
relação bilateral ali existente), e um sutil romance á moda antiga.
Agarrando-se
em suas respectivas esperanças recém-encontradas, os dois, “náufrago e astronauta”,
remam para um desfecho, que pode até parecer obvio aos mais observadores, mas
que não deixa nada a desejar em sua conclusão. Sobrevivência,
romance, esperança e sofrimento. Lee conseguiu um feito e tanto com seu filme, fazer
uma síntese da vida, em tempos que ninguém parece se lembrar o que tal palavra significa.
“Sobreviva!”.
Texto por : ~Warrior of words~